Mobilidade acadêmica e internacionalização: a experiência da UFSJ com o Programa de Tutoria Social Voluntária
Notas de Leitura
Lara Carlette Thiengo –
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3593-4746

Caros(as) leitores(as).
Em tempos de ‘’glorificação’ da internacionalização acadêmica para os centros de pesquisa mundiais com reputação mais proeminente ou melhor ranqueado, gostaria de destacar um artigo que incita a reflexão do processo de internacionalização de forma mais ampla a partir de experiência em uma universidade mineira. O texto tem como título “Mobilidade Acadêmica e Internacionalização: a experiência da UFSJ com o Programa de Tutoria Social Voluntária”, de autoria de Paula Aparecida Diniz Gomides. Maria de Socorro Alencar Nunes Macedo e Grazielly Aparecida de Almeida, que foi publicado na Revista Internacional de Educação Superior, na edição de 2025. [Vídeo – Áudio]
O objetivo do artigo é analisar o potencial de ações que buscam a criação de vínculos entre estudantes estrangeiros e brasileiros no ensino superior. O projeto de Tutoria Social Voluntária, foco do estudo, é desenvolvido pela Assessoria Internacional (ASSIN) da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) e busca a promoção internacionalizada a partir de experiências como viagens, gincanas culturais e formações em Português como Língua Adicional (PLA). O projeto seleciona alunos brasileiros matriculados em diferentes cursos de Graduação da universidade para recepção e acompanhamento de estudantes estrangeiros nas mais diferentes demandas.
A metodologia nos brinda com rica empiria: entrevistas realizadas com representantes da assessoria internacional, anotações de diários de campo, gravações em áudio de aulas e reuniões entre a assessoria, estudantes estrangeiros e brasileiros, além de documentos da própria universidade que visam orientar ações de internacionalização. Essa triangulação traz muitos elementos que nos permitem, para além de conhecer as experiências, pensar alternativas que caibam em nossas instituições e realidades (especialmente quando falamos de universidades com criação mais recente).
Além de tudo, o texto traz quadros que sistematizam as propostas desenvolvidas pelo programa de forma bastante organizada.
Não poderia deixar de frisar que a discussão do artigo é lastreada por um denso corpo de autores que vem discutindo a internacionalização. Um dos conceitos indicados é o de “Internacionalização em casa” como “uma experiência impulsionadora que busca vislumbrar, para além do cumprimento do currículo, o respeito a outras culturas na relação entre os atores sociais na produção do conhecimento” (Gomides; Macedo; Almeida, 2025, p.3)
Citando a renomada estudiosa da internacionalização da educação superior, Jane Knight, as autoras indicam algumas questões relevantes que precisam ser explicitadas: i) Apenas a inserção de estudantes estrangeiros no ensino superior brasileiro não garante trocas interculturais nas instituições; ii) internacionalização não significa aumento real nos indicadores de qualidade das IES; iii) quantidades exorbitantes de acordos internacionais firmados não significa prestígio e qualidade; v) a internacionalização não é suficiente para garantir o reconhecimento da IES em um contexto global, ainda que possa ser um objetivo bem trabalhado com as devidas ressalvas. (Gomides; Macedo; Almeida, 2025).
Por fim, compartilho o motivo pelo qual escolhi escrever uma nota justamente sobre este texto: para além da qualidade já mencionada, no momento em que escrevo este texto estou, mais uma vez, recebendo uma estudante estrangeira em minha casa. Isto é: literalmente, uma internacionalização ‘em casa’ (risos). Além de praticar o enferrujado espanhol, hoje entendo mais da República Dominicana do que aprendi visitando o país. Também já rascunhei dois projetos a partir das conversas, criamos laços, discutimos expressões das duas línguas, compartilhamos preocupações sobre o futuro. Até Galeano, meu cachorro, já responde seus chamados em espanhol.
Há muito mais na internacionalização do que números de saída e de entrada. Esse artigo inspira a partir da rica experiência que socializa e também nos chama a refletir. Vale la pena leer este artículo. ¿Qué te parece?
Referências
GOMIDES, Paula Aparecida Diniz; MACEDO, Maria do Socorro Alencar Nunes; ALMEIDA, Grazielly Aparecida de. Mobilidade acadêmica e internacionalização: a experiência da UFSJ com o Programa de Tutoria Social Voluntária . Revista Internacional de Educação Superior, Campinas, SP, v. 11, e025006, 2023. DOI: 10.20396/riesup.v11i00.8667503.
Como citar este post:
THIENGO, Lara Carlette. Mobilidade acadêmica e internacionalização: a experiência da UFSJ com o programa de tutoria social voluntária. [Notas de leitura]. Blog PPEC, Campinas, SP, v.9, e025002, mar. 2025. Disponível em: Acesso: dd mm aaaa.